top of page

A RELIGIÃO PARA O LGBT

  • Foto do escritor: Daiane Guimarães Cruvinel
    Daiane Guimarães Cruvinel
  • 28 de nov. de 2020
  • 6 min de leitura

A linha tênue entre o conservadorismo e a LGBTfobia


Imagem por: Site Mundo LGBTQIAP+

Semelhante à pauta sobre a LGBTfobia no ambiente familiar, encontra-se o LGBT que sofre dentro do ambiente religioso. Paremos para analisar: descartando neste momento os ateus, a pessoa religiosa que crê em um Deus, em suas infinitas formas e nomeações, tem nessa crença sua força extra. Em culto ou oração, em preces ou jejuns, da forma com a qual o individuo crente se sentir confortável, ele revela seus desejos, suas ambições, seus pedidos, suas súplicas, seus pecados, ou seja, seus sentimentos mais íntimos. É em Deus que cada pessoa se agarra quando algo em sua vida se torna turbulento ou sai de seu controle humano.


Se um determinado individuo está com problemas em casa, na escola ou no trabalho, ele se conecta com sua respectiva religião e pede ajuda, proteção, ou qualquer outra coisa que acalente seu coração e mente. Mas, quando este individuo em questão, está com algum problema relacionado a sexualidade ou gênero, e que faz parte de uma instituição ou família que prega interpretações religiosas baseadas em suas interpretações conservadoras, o indivíduo perde sua última fonte vital.


Em poucas palavras, se uma pessoa perde o amor da família e dos amigos, ela se contenta (dependendo de seu grau religioso) com o amor de Deus. Mas se essa pessoa em questão for LGBT e estiver nas condições religiosas citadas no parágrafo anterior, ela entende que por ser gay, lésbica, bissexual, transexual, ou integrante de qualquer outra minoria da sigla, ela será punida por Deus. Ele deixará de amá-la. Todo aquele ultimo recurso, o refúgio final, se fecha, por conta de comentários como “isso é seu maior pecado”, “Deus não te ama mais”, “Isso é contra a lei de Deus”, “isso é coisa do diabo”, “você jamais será perdoado e não vai pro céu”.


Graças a Deus, à ciência e ao conhecimento psicológico e religioso expandido além das instituições religiosas e seus representantes, hoje em dia, muitos LGBTs não veem Deus como seu maior inimigo dentro da sexualidade, mas existem aquelas pessoas que fazem todo tipo de ritual religioso para se livrarem desta condição, simplesmente por conta dos argumentos religiosos.


“Eu acho que o único preconceito que eu sofri mesmo, assim, bem direto, foi de uma amiga minha que era muito religiosa e ela teve argumentos horrorosos em relação a mim. Ela falou coisas do tipo: que eu não poderia nunca mais pisar na igreja, porque eu era um pecado ambulante; que o que eu estava fazendo era errado, era vergonhoso; que Deus tinha vergonha de mim”, conta Henrique Dias, um dos entrevistados do site Mundo LGBTQIAP+.


Henrique Dias é estudante de psicologia na PUC Goiás. Ele se assumiu LGBT aos 15 anos de idade e teve como maior problema de aceitação e ingresso na sua vida homossexual, a igreja na qual frequentava. Henrique deixa bem claro em sua entrevista que ao mencionar a igreja, ele se refere à instituição, não a Deus ou Jesus. Inclusive menciona que Essas Referências religiosas foram a chave para que ele construísse sua história de vida com base na resiliência, no amor que ele sempre soube que Deus tem por ele e na grandeza em ser uma pessoa de bem, independentemente de sua orientação sexual.


Antes de Henrique entender que o Deus dele o ama, independente de com quem ele se relaciona, ele passou por tensos períodos de negação. A maioria dos comentários que ele e muitos outros integrantes da comunidade LGBT escutam, vêm de pessoas conservadoras. Esse conservadorismo é interessante de ser analisado, porque ao mesmo tempo que é importante recordar sobre as crenças, costumes e culturas do passado e conservar essas memórias, também é de extrema importância analisar a mudança do mundo e adaptar esses valores. E é nessa adaptação e mudança que os conservadores ficam estacionados.


Entrevistamos o aluno de jornalismo, Wagner Oliveira, de 22 anos. Wagner vem de uma família conservadora e religiosa, e nos conta um pouco da sua opinião sobre o conservadorismo perante as ações da comunidade LGBT e insere um ponto de vista interessante que liga tudo isso à política.


Ao deparar-se com a pergunta “Para você, qual é a diferença entre conservadorismo e a LGBTfobia? ”, Wagner nos respondeu: Se construiu uma ideia de que ser conservador é ser homofóbico ou transfóbico. Essa é uma mentira criada pelo próprio movimento e seus apoiadores. Existem diversos homossexuais que não se sentem representados por esses movimentos por esse tipo de atitude. O que complica é que o presidente da república esqueceu (ou nunca soube) o que é conservadorismo e mancha a imagem de quem entende e segue essa linhagem. O mesmo fazem seus apoiadores lunáticos. Ser homotransfóbico é ofender, agredir um indivíduo com base em sua orientação sexual. Ser conservador é respeitar esse indivíduo e entender que ele tem o direito claro de ser o que ele pretender ser, sem influência dos outros ou do estado, com seu plano ideológico.


Na resposta de Wagner ele menciona o equívoco do movimento LGBT em dizer que o conservador é homotransfóbico, e também menciona as atitudes de grande parte daqueles que se dizem conservadores mas que na verdade praticam a LGBTfobia justificando-se nos preceitos conservadores e religiosos. Concluímos então que, por conta da atitude de uma grande parcela da sociedade, o conservadorismo não possui um conceito e uma significação específica, e por isso pratica atos de ódio contra a comunidade LGBT e assim é interpretado por ela.


Essa conclusão pode se basear na resposta de João de Oliveira Souza, ex-sacerdote da Companhia de Jesus (Jesuíta), católico fervoroso e professor de Teologia na Pontifícia Universidade Católica de Goiás, que, quando entrevistado pelo site Mundo LGBTQIAP+, nos respondeu a seguinte pergunta: “O pensamento conservador é uma forma de preconceito? Qual a diferença entre o pensamento religiosos e o pensamento conservador?”


“Existe um conceito de conservadorismo? É complicado responder isso. Mas podemos dizer, que há uma crescente presença do discurso conservador em nossa atual sociedade, nas igrejas e nos Centros de Estudos e a sua relação com as práticas homofóbicas, que estruturam a base de argumentação de muitas lideranças políticas, religiosas e educacionais. Nisso deparamos com o complexo problema da laicidade nos diferentes níveis da nossa sociedade brasileira”, responde João.


“Eu não saberia responder plenamente estas duas perguntas. De todo modo, é possível dizer algumas características fundamentais do pensamento conservador ocidental. Sabemos que o conservadorismo tem como principais valores a liberdade e a ordem, especialmente a liberdade política, econômica, religiosa, a ordem social e moral. O pensamento conservador, presente também na religião acredita que há uma ordem moral duradoura e transcendente, no nosso caso ocidental, é baseada na doutrina cristã e tem na religião a sua base”, continua o professor.


“Concluindo, o Papa Francisco na sua última encíclica social Frateelli tutti – Todos irmãos – rejeita o atual modo de viver aqui na Terra, ele afirma “Se alguém pensa que se trata apenas de fazer funcionar o que fazíamos, ou que a única lição a tirar é que devemos melhorar os sistemas e regras já existentes, está negando a realidade” (n.7). Com isso o Papa Francisco está nos dizendo diretamente que temos que ver os novos ensinamentos com a razão e com o coração, “que é uma ilusão enganadora, pensar que podemos ser onipotentes e esquecer que nos encontramos todos no mesmo barco” (n.30)” cita João.


“E adverte: “ninguém se salva sozinho, só é possível salvar-nos juntos (n.32). Por isso que no final de outubro 2020, o Papa Francisco vai afirmar “Ou nos salvamos todos ou ninguém se salva”. Com poucas palavras e simples, ele nos chama para o essencial de uma fraternidade aberta, que permite reconhecer, valorizar e amar todas as pessoas independente da sua proximidade física, sexo e raça, religião e crenças, de onde nascemos ou habitamos. Sejamos Todos Irmãos” finaliza o professor.


Como de costume em nossas diversas matérias e análises dos temas que cercam a comunidade LGBTQIAP+, entendemos que absolutamente tudo seria mais fácil e simples se as pessoas praticassem aquilo que tanto pregam. Se a vida do outro importasse menos, se julgar o próximo deixasse de ser prioridade e se o respeito reinasse, mesmo que haja distinção de opiniões, mas que todas essas se baseassem no respeito e na tolerância, seja ela de gênero, sexual, raça, cor, etnia ou religião.



Comments


  • Preto Ícone YouTube
  • Preto Ícone Spotify
  • Ícone preto do Instagram
bottom of page