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"Eu fui tirada do armário quando tinha 14 anos"

  • Foto do escritor: Daiane Guimarães Cruvinel
    Daiane Guimarães Cruvinel
  • 18 de nov. de 2020
  • 4 min de leitura

Meu nome é Giovanna Cabral, tenho 20 anos e sou acadêmica de direito da Faculdade Universo.

Imagem por: Giovanna Cabral

Comecei a desconfiar da minha orientação aos 12 anos, mas aos 9 anos já me interessava por uma menina da minha sala. Eu fui tirada do armário quando tinha 14 anos, falaram com minha mãe e ela foi atrás para descobrir. Eu me senti muito desconfortável, eu ainda não estava pronta para me assumir. Ficamos três meses sem nos falar, meu pai tentou me entender, foi muito difícil para minha família, eu era a caçula, então tinha todos os olhares da família sobre tudo o que eu fazia.

A escola que eu estudava foi bem homofóbica, a diretora me vigiava e falava para minha mãe tudo o que eu fazia e mandava fotos minhas no recreio pra mostrar pra minha mãe com quem eu estava, mas teve um professor que me apoiou e me ajudou bastante.

Fui acolhida por alguns amigos, mas muitos se afastaram, eles julgavam que, por eu ser lésbica, iria querer ficar com todas as meninas e achavam isso nojento, por isso se afastaram.

Aos meus 19 anos minha mãe me aceitou, mas foram cinco anos de luta, sou muito grata por ter recebido muito apoio já que com a maioria das pessoas não é assim. Quando eu me descobri, eu não entendia o que estava acontecendo comigo, me sentia muito mal, entrei em depressão uma época e não sabia como lidar, ainda mais por ser tão jovem, mas logo depois comecei a entender meu lado homossexual e aceitar que é uma coisa linda, somos pessoas incríveis e que sabem amar da forma mais bonita, ainda mais por sermos tão julgados e por resistirmos a todo o preconceito do mundo.

Na escola era aquela coisa né, casais heterossexuais podiam se masturbar dentro da sala de aula e levavam só uma notificação, eu já fui suspensa por ter abraçado a minha namorada, e eles alegaram que não podia acontecer demonstrações de afeto na escola, só esqueceram de mencionar que a regra só valia para casais homossexuais.

Já me senti várias vezes excluída, tanto na escola quanto na faculdade, mas sempre tentei manter a cabeça erguida e me manter firme, sei que tenho pessoas que me aceitam e me amam do jeito que eu sou, não precisamos de pessoas preconceituosas na nossa vida.

Minhas redes sociais são bem normais, mas tenho receio de expor, além de toda maldade de pessoas preconceituosas, tem muita inveja e comentários negativos sobre como vivemos o tempo todo. Eu já tive muito receio, mas hoje eu não tenho mais, não me prendo mais por medo de não ser aceita, se minha orientação sexual for um problema, eu não quero estar naquele lugar ou com aquelas pessoas. Sobre posicionamento já entrei em várias discussões no Twitter, sempre tentei me defender e defender meus semelhantes.

Minhas experiências mais tensas com preconceito estão diretamente ligadas ao machismo, me falaram inúmeras vezes frases como "meu pau é sua cura", "só está com aquela menina por que não ficou com homem que tem pegada", "me chama para um sexo a três com a sua namorada". Aconteceu até uma vez que um "amigo" meu veio conversar comigo dizendo que se auto satisfazia pensando em mim, já que por eu ser homossexual, era mais "excitante".

Infelizmente sempre tem a sexualização da mulher lésbica, principalmente se estiver acompanhada, sempre chegaram em mim com comentários desnecessários, insinuando coisas, pedindo para provar que eu namoro. Sempre que acontece eu acabo perdendo a paciência e não levo tranquilamente, porque para mim é uma grande ofensa e me incomoda, ainda mais ver a minha parceira passando por isso, héteros incomodam muito, aonde quer que eu vá.

Listando mais alguns comentários que eu já ouvi: “nenhum homem te comeu direito”, “sua mãe deve ter nojo de você”, “você merece morrer”, “macho nojento”, “deve ter sido estuprada pra ser assim”, “nada que um estupro e uma boa rolada na cara não resolva”, “vontade de bater até aprender a gostar de homem”, “serve direitinho pra fazer ménage”, “lésbica me dá tesão”, “quero ficar com você por que saber que você transa com mulher é excitante”, “deixa eu ver você transando?”, “transa comigo pro meu namorado ver”, “eu e meu amigo damos um jeito em você e na sua namorada”, “tão bonita pra ser gay”, “você é feminina demais pra ser sapatão”, “sapatão tem que ser masculina e você não é”, “eu sou mulher hétero, você vai querer me pegar?”, “não gosto de lésbica, eu sou mulher e você vai ficar querendo me pegar”.

Acho que o mais triste são sempre os comentários que vêm das mulheres, mesmo que eu seja da comunidade LGBT, ainda somos mulheres e temos uma luta em comum. Tem muita mulher hétero que se acha muito e pensa que só por que sou lésbica eu vou querer ela, não é assim, só por que eu sou gay não quer dizer que vou tentar ficar com qualquer mulher que aparece na minha frente. Comentário da escritora: a Cabral sempre foi do meu time, a gente ficava de fora das quadras torcendo e arrumando briga com qualquer idiota que praticasse algum discurso de ódio na torcida. Ela sempre foi a caçula do grupo, mas uma coisa nela dava pra gente a certeza de que, por traz dessa mulher forte e decidida, tinha uma história não muito legal. E hoje eu posso dizer que a beleza do LGBT mora exatamente em pessoas como a Gio e na superação dela em meio a tanto preconceito e machismo. Eu sou sua fã né, isso você já sabe, a novidade agora é que me sinto honrada em contar a sua história e mostrar você pro mundo! Saudades Cabralzinha ❤️

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