"Uma das expressões do racismo dentro da comunidade LGBT, é desumanizar o LGBT preto homem"
- Daiane Guimarães Cruvinel
- 30 de nov. de 2020
- 2 min de leitura
Meu nome é Jeovane Vicente de Souza, tenho 26 anos, sou editor de fotografia para um site de fotojornalismo, sou formado em Licenciatura em História e sou Gay.

Sobre episódios de racismo dentro da comunidade LGBT e da comunidade hétero também, eu já passei por isso tantas vezes que fica difícil de enumerar. Mas uma vez um homem na rua ao me ver de tranças me xingou de “demônio”, e como era a primeira vez que eu colocava tranças, eu me senti bastante atingido, foi bem marcante.
Agora sobre a homofobia dentro da comunidade preta, a coisa mais direcionada a mim aconteceu no meu canal no YouTube, onde um homem negro comentou que a homossexualidade não é africana, mas uma imposição europeia e colonizadora.
Uma das expressões do racismo dentro da comunidade LGBT, é desumanizar o LGBT preto homem, tratá-lo como objeto e apenas um pênis ambulante. Ambos existem, tanto a LGBTfobia na comunidade preta, quanto o racismo na comunidade LGBT, obviamente, mas o racismo dentro da comunidade LGBT é mais gritante, principalmente por parte de homens gays brancos cisgêneros, que só se afastam dos homens héteros brancos cis na sexualidade, mas são muito parecidos quando o assunto é defender sua posição privilegiada na sociedade.
Uma vez em uma comunidade no facebook destinada ao público LGBT, um dos membros, brancos, usou uma imagem minha usando tranças, como meme, de forma depreciativa. Em 2015 participei da Marcha das Mulheres Negras em Brasília, postei no twitter, e um grupo de perfis (fakes e reais) vieram até meu perfil em um ataque coordenado, alguns deslegitimando minha negritude, outros me chamando de macaco. Foi a primeira vez que isso aconteceu, na época fiquei bastante paralisado, aflito e preocupado. Hoje sei lidar melhor com comentários odiosos.
Eu me descobri na adolescência, entre os 13 e 14 anos, demorei bastante tempo para me aceitar, por conta da educação católica. Minha família de início não aceitou bem, o processo de sair do armário foi bastante doloroso, meus pais choraram e eu também. Felizmente não houve ameaças nem expulsão de casa. Meus pais e irmãos foram se adaptando e percebendo a naturalidade que é ser uma pessoa LGBT, e depois de um longo processo de aceitação, deixaram de serem preconceituosos, não totalmente, mas hoje entendem, respeitam, além dão abertura para conversarmos sobre minhas relações amorosas. Hoje sou realmente aceito pela minha família.
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