"Eu tento mostrar que isso que nós somos é completamente normal, e ela está tentando"
- Daiane Guimarães Cruvinel
- 30 de nov. de 2020
- 4 min de leitura
Meu nome é Vitórya Souza Furtado, tenho 21 anos, curso ontologia na UniRv e sou lésbica.

Me assumi com 16 anos para os meus amigos, e agora com 21 para a minha família (e está sendo bem complicado, por sinal). Sobre me expor nas redes sociais, eu uso o Twitter, lá eu posto mais sobre o meu relacionamento, fotos e tudo mais. No Instagram eu não posto nada, por conta de algumas pessoas da minha família, mas eu sempre me posiciono nas redes sociais, sobre injustiças e direitos. Eu acho que a gente tem que se posicionar com relação a isso, porque infelizmente ainda acontecem muitos atos cruéis das pessoas tentando nos atingir, ou conseguindo atingir nossos semelhantes.
Sobre episódios de preconceito, as minhas experiências chegam a ser incríveis, porque eu nunca fui atacada em lugar nenhum, nem na escola, nem na faculdade, na internet, ou em qualquer outro lugar, conheço várias pessoas que já passaram por episódios de preconceito, principalmente a internet, mas nada nunca aconteceu comigo.
Já a hipersexualização, o machismo e o assédio por ser lésbica, já aconteceu com todas as minhas namoradas e comigo. Aconteceu com a primeira namorada, com a segunda e já aconteceu agora também, no meu atual relacionamento. Quando estamos em alguma festa o cara chega e “ah vamos fazer um trio”, “ah beija aí pra eu ver”, essas coisas babacas de homem hétero. Isso me incomoda DEMAIS, eu fico puta de ódio, perco o respeito.
Eu me descobri quando eu tinha de 15 para 16 anos, no ensino médio, e comecei a me relacionar com a minha melhor amiga e fui levando isso tranquilamente, eu me considerava bi, porque eu também ficava com homens e com mulheres, então eu me aceitar nunca foi um problema para mim, eu sempre achei completamente normal e lidei bem demais com tudo que eu sentia e que descobria de novidade em mim. Eu nunca tive problema ou medo de falar quem eu sou, o que eu gostava de fazer ou quem eu gostava de beijar.
Na faculdade eu sempre falei do que eu gostava, qual era a minha orientação, sempre foi uma coisa clara para todo mundo da minha sala, na faculdade todo mundo sabia.
Em 2017 comecei o meu primeiro relacionamento homoafetivo, minha família meio que sabia meio que não sabia. Eles fingiam não saber. Meus amigos todos sempre me apoiaram, nunca tive exclusão por conta disso, sempre tive muito apoio dos meus amigos, eles sempre foram a minha base. Eles me ajudaram muito, desde os meus amigos do ensino médio, até os amigos da faculdade, que são pessoas diferentes, todos sempre me apoiaram e nunca teve nenhum episódio de preconceito.
Já com as pessoas da minha família sim, sofro até hoje. Principalmente dos mais idosos, dos meus avós, e é difícil né, mas infelizmente eu tento entender um pouco da cabeça deles.
Hoje minha mãe descobriu que eu namoro uma menina, por boca de outras pessoas, não saiu da minha, eu ia contar, mas seria no meu tempo, porque a minha mãe é da comunidade LGBT, ela também é lésbica e ela tem um problema enorme de aceitação. Ela sofre com isso até hoje e quando ela descobriu de mim, isso desestruturou ela.
Ela diz que não queria isso para minha vida e eu tento todos os dias falar pra ela que isso não é um problema, que amar não é um problema. Que o amor sempre tem que vencer e ele vai vencer sempre. Hoje eu e a minha mãe estamos tentando, ela está tentando conviver com a minha namorada, tentando fazer isso dar certo, porque isso vai melhorar muito a nossa relação de mãe e filha.
Estou tentando ajudar ela a se aceitar e a me aceitar, tentando seguir, dia após dia. Eu tento mostrar que isso que nós somos é completamente normal, e ela está tentando, está entendendo.
Ela sabe como o mundo é com o preconceito e eu tenho certeza que ela sofreu um preconceito muito grande, por isso ela não quer que eu passe por isso, ela não quer que eu sofra, então aos poucos vamos conseguindo quebrar essas barreiras.
Comentário da escritora: ai sem or, como eu admiro essa mulher! É extremamente surpreendente o fato de eu me emocionar com a história de alguém que eu já conheço há um tempo, principalmente porque você é meio que o correio do alto astral, não da pra perceber que existem problemas quando você está por perto, porque você cativa o ambiente, sei lá, dom de Vitórya. Acredito que o segredo está naquilo que fazemos pelos outros, está no momento em que a gente inspira o próximo com a nossa experiência, e você fez isso comigo, vai fazer com todos que lerem esse texto, e o mais lindo de tudo, está fazendo com a sua mãe. Eu tenho assim, CERTEZA, que vocês vão vencer, porque igual você disse, o amor sempre vence. Sou sua fã mulher, dentro e fora de quadra. E precisamos marcar de tomar uma cerveja!
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