"Meu nome é Gabriel Carvalho, tenho 25 anos, sou gay e sou arquiteto"
- Daiane Guimarães Cruvinel
- 18 de nov. de 2020
- 2 min de leitura
Atualizado: 18 de nov. de 2020

Para ser sincero não me lembro exatamente de como aconteceu minha aceitação como gay, foi algo bem natural, lembro sim de me culpar por ter “pensamentos errados” mas foi uma fase muito curta, lembro de pesquisar muito sobre o assunto e encontrar movimentos que me motivavam a ser quem sou de verdade.
Não estava nos meus planos, mas me assumi novo, no início dos meus 16 anos, tomei a iniciativa porque eu sabia que se eu não me assumisse outras pessoas poderiam fazer a fofoca para os meus pais.
Não foi fácil no início, enfrentei muita resistência dos meus pais e por iniciativa minha, procuramos atendimento psicológico e eles foram instruídos de que não havia nada de errado comigo, que errado era o preconceito deles, e assim aos poucos a relação foi melhorando, mas ainda acho que há muito o que melhorar.
Eu tinha um amigo, o qual eu tinha muito medo da reação, mas ele foi muito compreensivo e me surpreendeu mantendo normalmente nossa amizade. Na época que me assumi eu estava trocando de escola, mudando de círculo social e nesse novo círculo já me apresentei assumidamente gay e já fiz amizades em que isso não fosse um problema.
O meio da arquitetura, do meu ponto de vista, é composto principalmente por mulheres, algumas lésbicas, e dentre os poucos homens, principalmente nas gerações mais novas, a maioria são homens gays. Todos integrantes do escritório onde trabalho são homens gays, nós somos 4. Pessoas trans não ocupam a área, não conheço nenhuma, durante a formação tive uma colega trans mas ela não chegou à formar.
Exatamente dentro da arquitetura não percebo muita discriminação, estamos no “nosso lugar”, mas tratando da atuação profissional, nas relações com outros profissionais, lidamos diretamente com o ambiente da construção civil, composta por engenheiros diversos e pedreiros, um meio predominantemente masculino, homofóbico e machista. Nesses meios, o respeito, a tolerância, só acontece, infelizmente, por conta da posição de hierarquia que arquitetos tem sobre esses profissionais.
Sobre episódios de preconceito, eu caminho bastante para ir e voltar do trabalho, nesses trajetos já sofri algumas situações, as mais marcantes são os comentários de motoristas. Já tive diversas reações, de fingir que não era comigo até de revidar o comentário. No ambiente cibernético não me lembro de ter passado por algum episódio, talvez quando mais novo, mas não ultimamente. Na internet nos limitamos muito às nossas bolhas sociais, na minha bolha só fazem parte pessoas não homofóbicas. E falando sobre internet, sempre mostro minha vida nas minhas redes sociais, exatamente como ela é, tenho receio sim que um dia isso possa me prejudicar em algum relacionamento profissional, mas continuo sendo quem sou e me posicionando também, em discussão sobre direitos, sobre situações de injustiça, sobre iniciativas voltadas a ajudar a população LGBT vulnerável e principalmente no mês do orgulho.
Comentário da escritora: Gabriel é um amor de pessoa, me respondeu no dia em que eu mandei mensagem sem o conhecer, já que foi um amigo que passou o contato, e ficou super preocupado quando se esqueceu de responder as perguntas kkkkkkk. Me mandou as respostas bonitinhas em um arquivo em PDF e eu, apesar de não conhecê-lo pessoalmente, já desejo TODO o sucesso do mundo pra ele ❤️
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