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"É importante termos e sermos exemplos. Isso transforma, liberta e muda vidas"

  • Foto do escritor: Daiane Guimarães Cruvinel
    Daiane Guimarães Cruvinel
  • 28 de nov. de 2020
  • 4 min de leitura

Meu nome é Brunno Rodrigues Gonçalves, tenho 21 anos, sou aluno de Medicina na Universidade Federal de Goiás e sou gay.

Imagem por: Brunno Gonçalves

Eu me descobri com 8 anos quando comecei a ver meninos da minha idade de uma forma diferente. Os coleguinhas da escola falavam que gostavam de alguma menina e eu não sentia isso. Me vi diferente dos demais, não sabia o que era. Com 10 anos dei meu primeiro beijo em uma garota, nós éramos crianças. Mas não tinha interesse emocional e nem físico. Logo entrei na puberdade, por volta dos 11 anos e descobri a sexualidade, o erótico e comecei a conhecer e controlar meu corpo. Comecei a entender também o que era prazer e o desprazer, o que agradava e me despertava interesse e o que não despertava.


Fui muito precoce nesse sentido, mas ainda era uma criança. Com 12 anos dei meu primeiro beijo gay e entendi quem eu era e como meu corpo se comportou com a situação. Foi como se uma luz se acendesse em cima da minha cabeça e iluminasse minha mente. Me descobri homem cis, homossexual. Não demorei muito para contar para minha mãe e logo para o restante da minha família (mãe, pai e irmã).


Foi um processo muito tranquilo e de bastante aprendizado: parece que os pais sentem. Desde sempre fui uma criança afeminada, que gostava de brincar de boneca e não de carrinho, tinha muito mais amigas que amigos. Foi o momento certo para me assumir e eu só confirmei o que já estava estampado na minha testa hahhahaha.


Na época eu cursava o 9º ano do ensino fundamental. Desde o início, como eu disse, a minha família me acolheu, me deu suporte e nunca me julgou. Na escola sempre tinha uma criança ou outra que fazia um comentário maldoso, mas ninguém da instituição falou ou expressou alguma opinião que me ofendesse.


Meu círculo de amizade na época era muito restrito, quando me assumi pra todo mundo e comecei a falar abertamente sobre minha orientação sexual, muito dos meus amigos e amigas mais próximas também se viram como homoafetivos e se assumiram para os pais bem cedo. Isso é bem bacana: a importância de termos e sermos exemplos. Isso transforma, liberta e muda vidas. Se alguém se afastou de mim por causa da minha orientação sexual eu não me lembro, era ingênuo demais pra me ater a isso e tinha uma família e amigos incríveis demais que me acolheram muito bem emocionalmente.


Eu entrei na universidade com 19 anos, já tinha tido dois namoros sólidos e maduros e estava conhecendo uma pessoa, quase entrando no meu terceiro relacionamento homoafetivo. Não senti medo de ser excluído porque me blindava emocionalmente de qualquer ofensa ou comentário preconceituoso que pudesse vir a acontecer. Isso vem muito da ideia de ter tido uma família que me aceitou e me protegeu, minha base era muito sólida para poder ser abalada por qualquer coisa externa.


Dentro da sala de aula já aconteceram algumas situações desconfortáveis, nada específico e direcionado, mas alguns professores (na maioria, os mais velhos) ainda fazem piadinhas e brincadeiras de mau gosto. Já aconteceu na sala de aula, nos laboratórios de anatomia (esses foram os piores), nos ambulatórios dos hospitais. Eu me sentia muito mal com os comentários, já cheguei a bater de frente com um dos professores uma vez. O sentimento geral era de “o que eu posso fazer agora? ”, de estar de mãos atadas. Tinha que relevar e escutar calado se quisesse continuar assistindo aula e não travar uma discussão acadêmica.


Na minha turma existem várias pessoas assumidamente LGBTQIA+. Isso é muito importante porque mostra que estamos ocupando espaços que não ocupávamos há alguns anos. Entrei na faculdade em 2018 e não me senti excluído por ser LGBT: minha turma é bem desconstruída em relação a isso, mas sei que isso é uma exceção.


Acesso, frequentemente, e trabalho com as minhas redes sociais. Já senti que tive mais liberdade para expor minha vida pessoal, principalmente antes da faculdade. Hoje não compartilho tanto minha vida individual nas redes, sempre tem uma pessoa maldosa no nosso meio profissional pronta para nos prejudicar por algo que tenhamos postado.


Já sofri ataques nas redes sociais por me posicionar em temas pertinentes. Os ataques na maioria das vezes vêm de pessoas sem grau de instrução e que não estão abertas ao diálogo. Por isso me posiciono sempre e acho extremamente importante direcionarmos nossa atenção para o que nossa bandeira representa. Quando me posiciono e falo abertamente sobre um tema, com pessoas que pensam igual ou diferente de mim, estou influenciando positivamente e indiretamente (ou diretamente) que essa pessoa reflita sobre aquilo que pensa. É extremamente importante afirmarmos nossa identidade, quem somos e o que queremos enquanto comunidade. As maiores mudanças vêm quando nos posicionamos unidos e lutamos pelos nossos.



Comentário da escritora: olha Brunno, você é MA-RA-VI-LHO-SOOO, aceite! kkkkk

Estou extremamente grata em ter conhecido você através do Heitor e muito honrada por contar a sua história. Você tem um olhar, uma delicadeza com as palavras, uma forma carinhosa de escrever e expor aquilo que pensa, e tudo isso me deixou encantada. Tenho a plena certeza de que você será um profissional incrível e de sucesso, está escrito nas entrelinhas da sua história haha (confia, porque jornalista nunca erra as entrelinhas!).

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